“Eu sou o porta-voz do morro”, se definiu o cantor pernambucano Bezerra da Silva (1927 – 2005) no documentário Onde a coruja dorme (Brasil, 2012). De fato, Bezerra cantou músicas que retrataram o cotidiano das comunidades carentes da cidade do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense (RJ). Mas Bezerra era essencialmente um intérprete.
As verdadeiras vozes do morro, que forneciam repertório para o cantor, eram compositores como o alagoano Adelzonilton Barbosa da Silva (29 de junho de 1943 – 9 de agosto de 2016), morto no início desta semana, aos 73 anos, vítima de ataque cardíaco.
Não fosse reportagem publicada quarta-feira no jornal O Globo, a saída de cena de Adelzoniton em Mesquita (RJ) talvez tivesse sido feita completamente em silêncio. Uma injustiça social e musical com um compositor que, radicado há anos na Baixada Fluminense, assinou alguns dos grandes sucessos da carreira de Bezerra.
O maior deles foi Malandragem dá um tempo (Adelzonilton Barbosa da Silva, Moacir Bombeiro e Popular P, 1986), lançado por Bezerra há 30 anos e regravado pelo grupo carioca Barão Vermelho há 20. É o samba do maroto refrão "Vou apertar, mas não vou acender agora / Se segura, malandro / Pra fazer a cabeça tem hora".
Adelzonilton fazia a cabeça de Bezerra como compositor, tendo sido o autor de sucessos como Defunto caguete (Adelzonilton Barbosa da Silva, Franco Teixeira e Ubirajara Lúcio, 1984) e Canudo de ouro (Adelzonilton Barbosa da Silva, Franco Teixeira e Nilo Dias, 1991), sambas lançados na voz do fiel Bezerra.
A obra de Adelzonilton deu voz ao morro pela ótica do oprimido, combinando crueza, certa irreverência e leveza no trato de temas já em si tão duros como a realidade da população dos morros.
Fonte: Portal G1 - Foto: Divulgação