Glass Animals traz disco conceitual com 'histórias bizarras' para o Lollapalooza
Publicado em 21/03/2017 17:57
Música

 

Banda inglesa mostra no sábado 'How to be a human being', em que cada música fala sobre personagem fictício. Ao G1, guitarrista lembra que conheceu motorista que usava droga para não dormir.

Uma americana trabalhava como motorista e era obrigada a percorrer longas distâncias nos Estados Unidos dentro de um apertadíssimo espaço de tempo. Para vencer dias sem dormir, apelava para a droga (crystal meth). Certa vez, teve um surto de sobridade e recobrou a consciência: estava num clube de strip-tease, sem fazer ideia de como havia ido parar lá. "Ela estava preocupada de ter matado alguém ou de ter feito algo terrível. Ela não tem qualquer memória (risos). Uma boa história". Ou trágica (vai saber..).

Quem relembra o episódio é Drew MacFarlane, guitarrista do Glass Animals, que toca no sábado (25) no Lollapalooza. Em entrevista ao G1, ele explica que a banda inglesa é mesmo fã dessas histórias incomuns que ouve na estrada (a que abre este texto, por exemplo, foi contada por uma taxista que transportou o grupo).

É feito de relatos assim o segundo disco do Glass Animals, "How to be a human being" ("Como ser um ser humano"). Durante as turnês, o cantor e líder Dave Bayley coletava registros, gravava "histórias", e então criou um "álbum conceitual". Cada faixa descreve um personagem diferente (há sites específicos criados para eles). Na capa, uma bizarra "foto de família". O som é uma mistura de indie, pop, eletrônico e psicodélico.

Durante a conversa, MacFarlane lembrou que os integrantes do Glass Animals se conheceram no colégio em Oxford (cidade de Radiohead, Ride, Supergrass e Foals). Hoje em dia, sonham em trabalhar com Alabama Shakes e LCD Soundsystem. O risonho guitarrista falou fã ainda de Beyoncé, Beethoven e Jimi Hendrix. Mas quer mesmo é conhecer Donald Trump.

Entrevistador - Cada faixa do disco ‘How to be a human being’ é sobre um personagem criado pelo Dave Bayley, baseado nos registros que ele grava. De onde veio essa ideia?

Drew MacFarlane – Acho que foi o tipo de ideia que surge naturalmente a partir do estilo de vida que tínhamos na época, sabe?

Para o primeiro disco, nós estávamos essencialmente vivendo entre ensaios num pequeno estúdio de gravação no meio da floresta, não víamos muita gente naqueles dias, estávamos tão isolados... E aquilo talvez pode ter nos levado ao mundo abstrato e à ambientação para aquele álbum.

Neste segundo álbum, tivemos a ideia de contar a história de pessoas que encontramos durante a turnê. É uma experiência que temos todos os dias: conhecemos inúmeras pessoas novas, todo o tipo de gente, de todas as partes do mundo, com diferentes histórias, personagens exagerados. Então, a ideia meio que veio daí: passar por isso todos os dias durante cerca de três anos.

Entrevistador – Qual dessas histórias mais impressionou a banda?

Drew MacFarlane – Sim! (Risos) Tem uma história realmente louca. Foi contada por uma motorista de táxi. Entramos no carro, começamos a conversar e ela falou que antes tinha tido um emprego em que tinha de dirigir muito, muito rápido pelos Estados Unidos inteiros. Eram coisas de três ou quatro dias dirigindo.

Então, ela começou a usar crystal meth para fazer isso. Falava: "Se você usa crystal meth, você pode fazer a jornada inteira" (risos). Disse que um dia usou droga e ficou tão chapada, que "acordou" do nada em um clube de strip-tease, sem saber onde estava, tipo: "Onde diabos eu estou?!". E o segurança respondeu: "Você está num clube de strip". E ela: "Não, não! Em que cidade eu estou? Porque não faço a menor ideia" (risos).

O mais louco é que ela acha que alguma coisa bizarra deve ter acontecido naqueles três dias. Ela estava preocupada de ter matado alguém ou algo terrível. Ela não tem qualquer memória (risos). Uma boa história.

Entrevistador - Como é para você ser um ser humano [human being] numa banda?

Drew MacFarlane – Eu diria que... Numa banda, você nunca faz a mesma coisa por mais de dois dias seguidos. Você viaja, escreve músicas novas no estúdio, faz shows, dá entrevistas... Então, é uma coisa bem boa ter diferentes maneiras de viver a vida, acho. E nunca fica entediante.

Entrevistador - Os integrantes do Glass Animals se conheceram na escola antes de formar a banda em 2010. Vocês devem ter boas histórias de adolescência. Gostaria de compartilhar alguma?

Drew MacFarlane – (Risos) É uma boa pergunta... A coisa mais engraçada aconteceu quando tínhamos uns 18 anos de idade. Em Londres, você pode alugar para viajar pelo Reino Unido. Então, alugamos juntos para viajar pela Inglaterra. Foi uma das experiências mais bonitas que eu já tive, sabe?

No meio das montanhas no interior, um momento realmente de muita paz e relaxante, tocando música, tomando cerveja... No fim das contas, o barco na verdade acabou sendo confiscado. Porque acabamos indo mais longe do que deveríamos ter ido (risos). Então, acabaram nos tomando. Essa é uma grande lembrança envolvendo nós quatro.

Entrevistador - Vocês já se disseram fãs de Alabama Shakes, e o Dave inclusive citou que gostaria de fazer uma parceria com a banda. E você: gostaria de trabalhar com quem? Alguma banda da sua cidade-natal, Oxford, tipo Radiohed, Ride, Supergrass, Foals…

Drew MacFarlane – Sim! Alabama Shakes seria incrível, adoro a banda. Deixa eu ver outras bandas. Ah, sim! Seríamos muito sortudos, seria fantástico um dia fazer uma parceria com o LCD Soundsystem (risos). É uma banda impressionante, fenomenal.

Entrevistador - Mas você já disse que o disco ‘Lemonade’, da Beyoncé, é ‘obviamente o primeiro na lista de melhores do ano passado’. Por que isso é tão óbvio, na sua opinião?

Drew MacFarlane – Na minha opinião pessoal, o primeiro motivo são as excelentes colaborações, como a do Jack White [na faixa "Don't hurt yourself"], que eu adoro. Além disso, as canções elas são realmente, tipo, peculiares, inesperadas no contexto pop: o modo como estão estruturadas, os instrumentos que usaram, os temas das músicas que ela canta.

O interessante é que o álbum tem tanto a oferecer, que se você ouvir de novo e de novo, sem parar, vai perceber outras camadas – e vai ser recompensado por escutar mais de uma vez.

Entrevistador - Em uma entrevista para a revista ‘Under the radar’, perguntaram a você com qual celebridade, músico ou personagem histórico, vivo ou morto, você gostaria de ficar preso no elevador. E você respondeu Jimi Hendrix ou Beethoven. Eles influenciaram você como músico?

Drew MacFarlane – Sim (risos). Bem, Jimi Hendrix – o jeito que ele tocava guitarra, o jeito que ele fazia os solos, que ele pensava em estrutura, criava música realmente com textura... É uma coisa incomparável, incrível. Nós últimos cem anos, ele provavelmente foi o melhor.

E o Beethoven é porque, quando mais novo, eu música clássica e comecei com piano. Beethoven sempre foi um dos meus compositores favoritos.

Acho que o interessante a respeito dele é que não houve um outro compositor que, na época, fez tanto quanto ele, com relação à estrutura musical – e, por meio da música, com relação à emoção e ao que significa ser humano.

Entrevistador - Mas e dentre as pessoas que estão vivas. Com quem você gostaria de ficar preso no elevador?

Drew MacFarlane – Hummmm... Acho que seria bem interessante ficar preso num elevador com Donald Trump (risos).

Entrevistador - Por quê? Para botar a mão no cabelo dele?

Drew MacFarlane – Provavelmente para verificar se é verdadeiro (risos). E se o Trump é uma pessoa de verdade!

Entrevistador - Agora, uma pergunta-clichê: o que espera do Lollapalooza?

Drew MacFarlane – Eu nunca estive no Brasil, então espero qualquer coisa (risos). Quer dizer, tenho expectativas bastante abertas... Estou animado, porque o país tem uma cultura musical muito vibrante. Espero que as pessoas gostem e dancem.

Entrevistador - E por que vale a pena ver o show do Glass Animals no festival e não outro que estiver acontecendo ao mesmo tempo?

Drew MacFarlane – Bem... (risos). Acho que nosso show é realmente animado [fala pausamente]. Ao vivo, usamos muitos elementos de música eletrônica para dançar... Então, é realmente dance music, mas é tudo tocado ao vivo. Não há faixas pré-gravadas ou coisa assim. Temos um bom senso do que é divertido, então se você vier nos ver, definitivamente vai curtir.

Entrevistador - É difícil reproduzir o som do disco quando tocam ao vivo?

Drew MacFarlane – Ao vivo, nós tentamos ser muito, muito espontâneos, aconteça o que acontecer. No estúdio, você tem tempo para pensar em como tudo vai soar, dá para fazer as coisas de novo... No show, você tem só uma chance para fazer, tem de ser de primeira.

 

 

Fonte: Portal G1 - Foto: Divulgação

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